Visualizações

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Nem o tempo te cura

Hoje sofro com o orgulho e com a vaidade que tinha em ti. Passei a aceitar os teus distúrbios mentais e o facto de não seres feliz e de não deixares os outros sê-lo. Aguento, parcialmente, os remorsos de uma culpa que não me pertence e vingo um passado que ainda não passou. Já nem falo do mau aspecto que provém de calças gastas e russas, de camisas de três dias amarrotadas pela descarga da revolta que criaste em ti. Falo das atitudes medíocres e da ignorância que não te deixou chegar mais longe. Há muito que derrocaste a nossa relação que, da tua parte, sempre foi para seres visto com bons olhos pelos que te desafiavam. Sempre usaste sentimentos como liquidação para afiançares esses cheques de vida sem cobertura. Quando se perde o trunfo mais seguro, invoca-se o pouco que se fez de bem, inverte-se a história e tenta-se ser como o modelo mais próximo. Escusas de continuar com esse drama, com a encenação e com os textos de longe ingénuos. Se um dia tiver saudades tuas, não esperes que vá à tua procura com malas atrás, com arrependimento no coração e com discurso treinado no silêncio da noite, enquanto todos dormiam há horas e eu não o fazia. Se, algum dia, as saudades me baterem à porta de casa, serão bem recebidas, é sinal que valemos a pena. Seria mais ou menos daqui a quinze anos que os meus sonhos entrariam na minha vida, quando ao fim da noite tivesse as camas feitas, a loiça arrumada, a televisão ligada e quando me sentasse no sofá e tivéssemos uma conversa, onde me justificavas o porquê de hoje não sermos quem devíamos. Ficarei com as lembranças da rotina do presente, onde as desilusões me matam todos os dias, onde te vejo por obrigação e onde a indiferença me acompanha no teu lugar. A única diferença que temos, são só mesmo os quarenta e cinco anos de diferença de idades. Pior que estar magoada contigo, é já ser feita de mágoas por ti.